Conheça Sam Porto, o primeiro homem trans a desfilar no SPFW
Antigamente, Sam Porto achava que não levava jeito para ser modelo. “Meus pais sempre apoiaram a ideia. Eu e minha irmã somos muito altos, mas eu achava que teria que explicar muita coisa para o pessoal do mercado. Imaginava que ninguém entenderia direito como lidar com um modelo que é homem trans”, explica o jovem de 25 anos no backstage do desfile da Korshi, marca participante do Projeto Estufa que o escalou para seu casting e o colocou de peito aberto na passarela, com suas cicatrizes à mostra em uma imagem de impacto. Antes disso, ele já tinha passado pela apresentação da Ellus, no centro de São Paulo, na praça em frente ao Farol Santander, durante o desfile que abriu este SPFW.
“Não imaginava que as coisas poderiam dar tão certo”, confessa. “Eu comecei nessa vida de modelo fazendo trabalhos sem a intermediação de uma agência. Bem informalmente. Depois, encontrei o pessoal da 3 Models, de Brasília e a coisa começou a engatar. Em São Paulo, quem me descobriu foi a ROCK e eles me disseram: ‘vamos tentar de colocar na semana de moda, você topa?’ e eu, obviamente, mergulhei de cabeça nessa ideia.”
DESFILE DA ELLUS / AGÊNCIA FOTOSITE
Apesar da pronta disposição para encarar os castings e as provas de roupas, Sam estava igualmente preparado para se frustrar ao receber resultados negativos. “Eu estou muito feliz e muito ansioso. Não consigo acreditar que tudo isso está acontecendo”, disse o modelo depois perder as contas de quantas marcas fecharam com ele nesta temporada. “São sete ou oito, não sei… Dá para acreditar?” Para além disso, ficou surpreso ao perceber que muitos dos seus medos não se concretizaram. “Imaginava que os estilistas me leriam como ‘andrógino’, ficava aflito pensando que poderiam me colocar na fila feminina, que não respeitariam a minha identidade”, disse. “Essa alegria toda também vem do fato de que eu percebi que tenho um espaço aqui. Ele existe e eu posso ser eu!”
Em Brasília, Sam é tatuador. “Por hora, joguei tudo para o alto. Larguei tudo para vir para cá e apostar na carreira de modelo. Ainda estou indo e voltando entre uma cidade e outra conforme os trabalhos vão aparecendo. Estou aqui há dois meses nessa missão de conseguir fazer o SPFW e agora só volto quando ele acabar.”
SAM NO DESFILE DA MODEM / AGÊNCIA FOTOSITE
“Na agência, a gente teve uma conversa importante. Eles me disseram que queriam me vender como modelo masculino, como homem. Claro, é o meu lugar, mas acho crucial carregar o trans no final. Eu sou homem trans, não sou cis e quero deixar isso em evidência, levantar essa bandeira”, declara. Internacionalmente, 2019 está sendo um bom ano para os modelos homens trans. O norte-americano Nathan Westling teve sua transição acompanhada publicamente em março e, em fevereiro, Finn Buchanan desfilou para a Celine. Krow Kian, por sua vez, fechou uma apresentação da Louis Vuitton e, de quebra, ainda estampou a capa de uma edição da L’Uomo Vogue.
“Praticamente não tenho referências de outros modelos de moda homens trans no Brasil. E isso precisa passar a existir. É muito importante. A gente também se veste e a roupa tem um papel enorme na composição da nossa identidade. É meio bizarro, se você parar para pensar, que estamos quase em 2020 e eu sou o primeiro modelo homem trans a desfilar no SPFW.”
A Arte Das Bonecas
E Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. A criatura, esperta que era tratou de imitar seu criador. E assim, começa uma história de brinquedo: era uma vez o ser humano e um objeto feito à sua imagem e semelhança…
a Boneca.
A Vênus de Willendorf, encontrada nas cavernas da Áustria, foi feita provavelmente há 30 mil anos
Oficialmente, tudo começou cerca de 2 000 anos antes de Cristo, no Egito Antigo, durante a época do Médio Império, quando surgiram as primeiras bonecas de que se tem notícia. Algumas eram talhadas em madeira
Também, faziam bonecas de terracota, uma argila modelada e cozida no forno. Elas eram chamadas ushtbs, mediam entre 10 e 23 centímetros e costumavam ser colocadas nos túmulos dos faraós.
Na tradição judaico cristã, se imiscuíram sorrateiramente na criação da vida. Desde então, o mundo das bonecas tem sido o ninho predileto da magia, da fantasia, da arte e da religiosidade.Originalmente, as crianças nem sequer tinham o direito de se aproximar desses pequenos totens, que se acreditava terem poder de vida e morte sobre as pessoas e eram monopólio de donos bem mais exclusivistas: sacerdotes, feiticeiros e curandeiros.
na Grécia e em Roma,
tinha também uma função ritual. Na época do casamento, as jovens gregas costumavam consagrar suas bonecas à deusa Afrodite. Alguns dos bilhetes que acompanhavam essas oferendas foram conservados até hoje. “Eu, Sapho, dedico este precioso presente para você”, escreveu uma dessas mulheres de Atenas. Os romanos celebravam em dezembro, ao mesmo tempo que as comemorações de Saturno — o deus que, depois de expulso do Olimpo fundou Roma —, festas particulares em que bonecas eram dadas como presentes. Sempre em maio, o deus Lares — o nome diz tudo — era homenageado com altares lotados de bonecas.
O ritual e o prazer da simples brincadeira se tornaram inseparáveis na sociedade clássica.
Em Herculano, cidade romana destruída com Pompéia na erupção do Vesúvio, em 79 d.C., foi encontrado o corpo de uma menina abraçada a uma boneca, completamente preservado pela lava. Descobrir se ela se agarrava a um simples brinquedo ou a um ídolo como as imagens de santos a que até hoje muitos se apegam em momentos difíceis é uma missão impossível.
Só a partir do século XVIII, com a Revolução Industrial, a boneca voltaria ao reino da infância. As regras rígidas que governavam o comportamento das crianças até então começaram a ser relaxadas. Educadores e filósofos encorajavam pais a permitir que as meninas brincassem com elas e o crescimento da classe média abriu mercado para a produção em larga escala. Rapidamente as crianças européias saíram da rústica idade da madeira para a delicadeza dos rostinhos de louça — um segredo roubado da China. Daí para o biscuit — material que proporcionou as mais perfeitas imitações da pele humana até hoje — foi um pulo. Nascia a idade de ouro das bonecas.
No sarcófago da imperatriz Maria, esposa do imperador romano Honórius, morta no século 3 de nossa era, cientistas encontraram uma boneca do tamanho de uma Barbie, toda articulada. Ela tinha um enxoval e joias feitas sob medida, do mesmo jeito que a boneca moderna. Seria um brinquedo ou mais um objeto religioso?
A dúvida persiste, mas sabemos que, no século 18, quando as indústrias começaram a se multiplicar pela Europa, as bonecas se popularizaram como brinquedos infantis. Desde então, vários materiais foram usados para fabricá-las, como madeira, louça, biscuit, plástico, borracha…
De qualquer forma, uma coisa é certa: as bonecas já garantiram – e vão garantir – muitas tardes de brincadeiras entre as crianças de todo o mundo!
Barbie
Loira, olhos azuis, cintura fina e seios grandes. Com corpo e rosto de modelo, a boneca Barbie (de nome completo Barbara Millicent Roberts) sintetizou o sonho americano de consumo, status e beleza. Lançada em 1959, numa época em que a mulher se limitava a cuidar da casa, Barbie era jovem, solteira e sem filhos – a primeira boneca adulta da história do brinquedo. Seu sucesso foi imediato – a ponto de ser considerada um ícone da cultura pop – e logo ela passou a ter um guarda roupa completo e aprendeu profissões. Também antecipou a onda das top models quando ganhou vestidos exclusivos de grifes como Dolce & Gabbana, Calvin Klein, Versace e Giorgio Armani. Depois vieram mansão, carro, piscina… e problemas sentimentais.
A linha Fashionistas lançadas em 2016 representaram uma evolução na trajetória da Barbie. Sem padrões corporais, as bonecas apresentam sete tons de pele, 22 cores de olhos e 24 penteados.
Esta, com Modelo de Dior
RuPaul’s Drag Race é um dos grandes fenômenos do mundo da televisão nos últimos anos. Agora, o reality protagonizado por drags ganhará uma linha de bonecas da Funko Pop! Vinyl, que chega ao mercado já neste primeiro semestre.
Até agora, três personagens do programa já foram confirmadas em forma de bonecas: RuPaul, Alaska Thunderfuck e Trixie Mattel. Novas miniaturas devem ser anunciadas nas próximas semanas.
Por enquanto, a coleção está a venda no site Hot Topic. Nenhum preço foi revelado e ainda não há previsão para a chegada das bonecas no mercado brasileiro.
Seja Você, Mulher Natural, ou uma Mulher em Essência:
Crossdresser também o são e amam BONECAS
por Lizz Camargo
DEUSES GREGOS…
Livres de Preconceitos…
A GRÉCIA ANTIGA É CONHECIDA COMO UM PERÍODO HISTÓRICO EM QUE SER GAY ERA A COISA MAIS COMUM. ATÉ MESMO A MITOLOGIA PROVA ISSO
Todos sabem que a Grécia Antiga era uma espécie de paraíso para os gays: antes do mundo cristão, a prática homossexual era algo corriqueiro e muito, muito comum na sociedade grega (não que na nossa não seja).
A mitologia também embasava muito essa cultura, provando que as histórias gays são muito anteriores ao século XX. Amantes nas guerras de Troia, traições, romances no Monte Olímpo… atrás dos 20 deuses gays da velha Atenas e conta-se histórias muito interessantes para exemplificar como era a vida gay naquela época.
Aquíles
Famoso por seu calcanhar, Aquiles não tinha apenas essa cartilagem como ponto fraco. Homero nunca explicitou nenhuma relação gay entre ele e seu amigo mais próximo, Pátroclos, muitos estudiosos interpretaram uma ligação romântica entre os dois. Aquiles chegou até a vingar a morte de Pátroclos, tirando a vida do príncipe Heitor, de Troia.
Zeus
Deus de todos os Deuses, Zeus também teve um ladinho gay. Ele fez do jovem mortal Ganimedes seu copeiro, e dizem que a relação se baseava na pederastia – prática muito recorrente entre homens naquela época – mantendo relações eróticas com o funcionário.
Narciso
Um dos mais conhecidos da mitologia grega, Narciso tinha uma vaidade pra ninguém botar defeito. O primeiro homem, no entanto, ao qual ele teve algum tipo de sentimento, não foi ele mesmo, mas Ameinias. Segundo um mito da região da Boécia, eles tiveram um relacionamento e, eventualmente, Narciso teria se cansado de seu amante. Desesperado pela rejeição, Ameinias teria se matado por depressão.
Apolo
Deus do sol, Apolo também era um libertino. Além dos vários amantes ninfos, também tinha um caso com o príncipe Jacinto, da Macedônia. Ele se envolvou com o cantor Thamiris no que foi o primeiro relacionamento homoafetivo da história, além também do Hímen, Deus do casamento.
Hermes
O mensageiro de asas dos Deuses foi apontado como amante de homens em vários mitos. Em uma variação do mito do Jacinto, foi o amante de Hermes, Crocus, que morreu e virou flor. Em outros mitos, há sugestões de que houve um romance entre Hermes e o herói Perseu.
Pan
Muitos textos mitológicos e obras de arte conectam Daphnis ao sátiro Pan, deus da música. Ele frequentemente era retratado na escultura perseguindo homens e mulheres ao redor com seu pênis e escroto de grandes dimensões. Meio homem. Metade bode. Bissexual.
Dionísio
Conhecido como Deus do vinho, Dionísio também era Deus do intersexo e dos transgêneros. Era amante do belo Adonis e de Ampelo. Viajou ao lado do deus Hades e do guia Prosimno, com quem tinha um acordo de fazer sexo após a jornada. Prosimno morreu, mas o acordo continuou feito. Tanto é que transformaram seu corpo em um falo de madeira para que o trato fosse cumprido…
Heracles
A lista de amantes de Heracles é imensa: Abderos, Hilas, Iolau… Com Iolau, o romance teve como cenário a cidade de Tebas, onde dizem que os amantes masculinos se encontravam para fazer juras e promessas, mesmo com seu amado no túmulo.
Poseidon
Poseidon foi agraciado pelo rei de Pisa, que uma vez “dividiu doces presentes de Afrodite”, a deusa do amor, com o Deus dos mares, segundo o um texto de Pindar, poeta de Tebas. Será que teve?
Hermafrodita
Fruto da relação de Hermes e Afrodite, Hermafrodita talvez seja a primeira referência literária de uma pessoa intersexual. A criatura de ambos os sexos era frequentemente representada na arte clássica como uma figura com seios e forma femininos, mas com genitália masculina.
A ORIGEM DA MÁSCARA
Incerta, a origem da palavra “máscara” é interessante: alguns acreditam que poderia ser proveniente do latim (mascus ou masca; “fantasma”) derivado do árabe (maskharah, palhaço; e do verbo sakhira, “ao ridículo”). Mas ela também poderia ser proveniente do hebreu (masecha), cuja tradução seria algo como “ele zombou, ridicularizou”
Dançarinos de Chhau, dança marcial indiana (Foto: Pallab Seth)
Ornamentadas em diversos materiais (madeiras, metais, conchas, fibras, marfim, argila, chifre, pedra, penas, couro, peles, papel, tecido e palha de milho), as máscaras representaram, ao longo dos séculos, os seres sobrenaturais, as divindades e os antepassados. Uma das mais antigas práticas humanas, o uso das primeiras máscaras pelo homem primitivo teria ocorrido em 9.000 a.C.. Em fase de restauração no Museu Bible et Terre Sainte, em Paris, e no Museu de Israel, em Jerusalém, as máscaras antropomórficas (detentoras de características humanas) teriam sido utilizadas em diversas celebrações, cultos e rituais de povos primitivos. Elas buscariam a associação do usuário com algum tipo de autoridade incontestável, tal como “deuses” ou alguma outra forma de creditar a reivindicação da pessoa em um determinado papel social.
Máscara do Antigo Egito, cerca de 664-535 a.C.
Na China, as máscaras eram usadas para afastar os maus espíritos. No Egito Antigo e na Grécia, elas eram inseridas sobre o rosto dos falecidos na crença da passagem para a vida eterna. Essas máscaras mortuárias estilizadas tinham a função de orientar e evitar a “fuga” espiritual do corpo, seu lugar de descanso eterno. Elas eram feitas de tecido coberto com gesso ou estuque (uma argamassa composta de gesso, água e cal, de secagem rápida) e pintadas logo em seguida. Para personagens mais importantes, foram utilizados metais preciosos como a prata e o ouro.
Máscara mortuária do faraó Tutancâmon, que data de 1350 a.C.
Foi também durante a Grécia antiga que surgiram as máscaras teatrais.
O exagero de expressão era característica principal dessas máscaras, elas foram projetadas em um tamanho que permitisse ampliar a presença do ator e também sua voz, através de um dispositivo embutido em uma espécie de “megafone”.
Nessas ocasiões, todos dançavam, cantavam, se embriagavam e realizavam orgias, evocando a presença do deus através do emprego da máscara. A Grécia foi também o berço do Teatro, modalidade artística que recorria constantemente ao encantamento das máscaras, até mesmo como uma forma de evitar que os atores incorporassem os mortos.
Atualmente ainda se vê este hábito perpetuado no Japão.
Máscara japonesa do teatro “No”
O teatro japonês No (misto de canto, pantomima, música e poesia) possui cerca de 125 variedades de máscaras, que são classificadas em cinco tipos gerais: pessoas de idade (masculino e feminino), deuses, deusas, demônios e duendes. Confeccionadas em madeira, revestidas de gesso, envernizadas e douradas, as máscaras são pintadas respeitando significados de cada cor: simbolizando a violência e a brutalidade, o vilão é representado pelo preto; o branco caracteriza um governante corrupto; o vermelho significa um homem justo.
Máscara Mahakala (um dos nomes atribuídos a Shiva, o deus transformador hindu), Nepal
Máscara cerimonial da tribo indígena canadense Heiltsuk, século 19
Máscara feminina da tribo Haida, do Alasca – Vancouver Art Gallery
José Mattoso analisa o papel dual da máscara: “Se repararmos para que serve, sobretudo nas sociedades ditas ‘primitivas’ e nas sociedades tradicionais, tem de se reconhecer, creio eu, que a máscara, longe de ocultar, revela; que ela retira a expressão pessoal do rosto, mas manifesta aquilo que na vida cotidiana não se pode ver; que ela serve, enfim, para descobrir um certo sentido do rosto que está para além das aparências: aquele sentido em que a face viva e individual faz esquecer e só aparece com a morte.” Um exemplo disso são as máscaras criadas por povos do Himalaia, que funcionavam, sobretudo, como mediadores de forças sobrenaturais.
Anthony Shelton, diretor do Museu de Antropologia da Universidade da Colúmbia Britânica, ele acredita que as máscaras de animais podem ter sido utilizadas em cerimônias religiosas, iniciações e rituais de sepultamento, representando a intervenção de entidades ancestrais. Além disso, elas poderiam ser utilizadas como uma forma de divisão política do império Inca.
Máscaras de dança da tribo Yupk, século 19
Máscara de dedo da tribo Yupk, cujo tamanho não ultrapassa 8 centímentros, século 19
Máscara de miçanga em madeira do povo Huichol, Mexico, 2005
Muitas das primeiras máscaras representavam alguns animais, incluindo o jaguar (onça), o puma e a raposa (alguns dos quais posteriormente assumiriam características cada vez mais antropomórficas entre as civilizações Chimú e Moche). O cronista Felipe Guaman Poma de Ayala, que viveu no Peru, desenhou alguns fazendeiros usando cabeças de raposas e peles sobre suas próprias cabeças. Eles incorporariam personagens animalizados durante cerimônias dedicadas a certas entidades espirituais.
Máscara de cera de abelha em madeira do povo Huichol, Mexico, 2005
Com a queda do Império Romano, os cristãos primitivos praticamente proibiram o uso das máscaras, considerando-as instrumentos do paganismo. Na América, elas desembarcaram junto com os europeus que para lá se transferiram, tanto como brinquedos infantis, quanto para bailes e outras festas.
Os nativos brasileiros, em suas cerimônias, portavam máscaras simbolizando animais, pássaros e insetos; na Ásia, elas eram assumidas tanto em ritos espirituais quanto na realização de casamentos; em várias tribos primitivas, os índios mais velhos usavam máscaras em cerimônias de cura, para expulsar entidades negativas, com o objetivo de unir casais em matrimônio ou nos rituais de passagem, momentos marcados pela transição da infância para o mundo dos adultos.
Na América, elas desembarcaram junto com os europeus que para lá se transferiram, tanto como brinquedos infantis, quanto para bailes e outras festas.
Entre o final da Idade Média e ao longo do século 18, a confecção das máscaras mortuárias para a realeza da Europa foi reavivada, tornando-se tradição entre as pessoas famosas da sociedade europeia entre o século 17 e 20. Com cera ou gesso líquido de paris (feita de minério de cálcio e água, que tem a propriedade de não encolher e endurecer rapidamente), o negativo do rosto humano era produzido e agia como um molde para a imagem positiva.
Durante o Bal Masqué (tradicional baile de máscaras europeu), o uso de máscaras era obrigatório – e até satisfatório, devido a constantes conflitos políticos. Os cortesões mascarados faziam brincadeiras, confiantes no anonimato, extravasando todos os seus impulsos reprimidos e libertando-os das normas sociais.
Personagens do teatro de rua Commedia dell’arte
Réplica de máscara veneziana
Em Veneza, no século XVIII, as máscaras transformaram-se em itens de consumo cotidiano por todos os seus habitantes, velando apenas o nariz e os olhos. Logo foram proibidas, pois dificultava a ação da polícia na identificação de criminosos, muito comuns nesta cidade naquela época.
Curiosamente, em Veneza, as máscaras tornaram-se peças decorativas, transformando-se em principal atividade econômica para a região. Usadas pelos “bobos da corte”, artistas do riso, as máscaras transformaram-se em Arlequim, Pulcinella, Pierrot e Colombina, personagens da Commedia dell’arte.
Realizado nas ruas e praças públicas, esse teatro popular improvisado apresentava cenas que ironizavam a vida e os costumes da nobreza da época. Mais tarde, esses mesmos personagens inspirariam o Carnaval veneziano, que duraria até o final do século 18, com a queda da República de Veneza, período em que o uso e a tradição das máscaras começou gradualmente a diminuir, até desaparecer completamente.
Enquanto símbolo visual, a máscara retoma as fontes dos mitos dos antepassados, dos deuses e dos animais totemizados.
E continua presente em eventos sociais como bailes, desfile de carnaval, festas à fantasia e em diferentes profissões: médicos e dentistas usam máscaras cirúrgicas, protegendo a si e os pacientes. O soldador protege-se das fagulhas com uma máscara metálica; no esporte, o esgrimista, o jogador de futebol americano e o lutador de boxe não podem entrar em combate sem sua máscara.
Segundo Mattoso, , a máscara procura abrir o caminho à compreensão do que há de mais universal no homem, e do que inexoravelmente o liga ao mistério das trocas entre a morte e a vida. Só assim se compreende o fascínio pelas máscaras que inspiraram e inspiram tantos artistas do teatro e tantos escultores em todas as culturas e em todas as civilizações.”